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Maíra Ortins

Maíra Ortins, cidade do Recife, 07 de outubro de 1980. Possui Graduação em Letras, UFC, (2006). De 1995 a 1998, estudou na Escolinha de Arte do Recife. De 2005 a 2008 foi diretora da Galeria Antônio Bandeira. Entre 2008 a 2012 foi Coordenadora de Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Fortaleza. Participou de vários salões e exposições coletivas e individuais pelo Brasil e exterior. Fez individual em Barcelona e Madrid, Espanha, 2011. Individual em Nurembergue, Alemanha, 2012. Individual em Fortaleza, 2019. Expôs em Havana, Cuba, 2013. Participou da 40 Bienal de Arte de Cerveira, Portugal, 2018. Residência artística em Recife, no Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães, 2012. Residência artística em Valência, Espanha, pelo programa Conexão Cultura Brasil, Minc. Residência artística em Recife, na Semana de Artes Visuais, SPA, 2009. Prêmio Unifor Plástica, 2009. Prêmio IX Edital de Incentivo às Artes da Secult, 2014. Prêmio VI Edital das Artes da Secultfor, 2016. Prêmio do 69º Salão de Abril, 2018. Prêmio VII Edital das Artes da Secultfor, 2019. Prêmio VIII Edital das Artes Secultfor, 2020. Sua obra consta em acervos importantes de museus brasileiros e em instituições públicas no estrangeiro. Tais como: Galeria Graça Landeira, Belém do Pará, Brasil; Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Fortaleza, Brasil; Centro del Estudios Jiloca Teruel, Espanha; Graphic Art Gallery, Varna, Bulgária; Asociacion de artistas graficos Luiza Palácios, Venezuela; Universidade The Iowa, USA; Centre Catolic-Institut de Cultura de Ciudad D’Olot, Espanha; Art Museum Timisoara, Romênia; Museu Nacional de La Paz, Bolívia; Museu de Arte moderna Aloisio Magalhães-MAMAM, Recife, Brasil, Museu Universitário de Arte de Uberlândia-MUNA, Minas Gerais, Brasil.

Site: https://mairaortins.wordpress.com

Email: mairaortins@gmail.com

Telefone Público: (85) 996220036

Endereço: rua julio ibiapina, 300, apartamento 501, Meireles, 60170-220, Fortaleza, CE

CEP: 60170-220

Logradouro: Rua Julio Ibiapina

Número: 300

Complemento: apartamento 501

Bairro: Meireles

Município: Fortaleza

Estado: CE

Descrição

O conjunto de minha obra é um vasto no que se refere as técnicas de execução. O que liga uma produção a outra é o tema da migração e suas consequências sociais. Tenho uma pesquisa com imigrantes realizada com fotoperformance, tendo esta se desdobrado em outras que recriam novos personagens. Por esta razão, pode-se afirmar que meu trabalho é resultado de um processo que desencadeia distintos caminhos que levam a um mesmo ponto. Nas séries de fotoperformance, por exemplo, atuei interpretando personagens por mim criados. A exemplo, a personagem que chamo de abissal é uma metáfora de toda a criatura vinda do mar, do mais profundo e obscuro oceano. Aquela criatura feia e da escuridão, emerge em minha obra como um ser mítico, surge quase como uma lenda. Foi daí­ que desenvolvi o projeto Deriva, que se destinou a levar a criatura abissal pelo mundo. Antes da criatura abissal, eu já havia iniciado uma longa série intitulada “das intimidades do mar” que utiliza fotografias antigas, reproduções de daguerreotipos, manipulados com cera e desenho para narrar a história de uma espécie de Atlântida. Eu chamo essa Atlântida de Pasárgada, em referência ao poeta pernambucano, Manuel Bandeira. Dessas duas séries, surge uma outra intitulada Khôra. De forma mais midiática e política, nasce a personagem Judith que aparece entre imigrantes e refugiados espalhados pelo mundo. Ela aparece quase sempre mascarada. Judith não tem rosto, não julga. Judith é como uma espécie de entidade que representa os povos em sua diversidade étnica. Ela aparece. Surge no entre e desaparece. Incomoda. Ela é o outro quase invisível, mas que tanto perturba: o imigrante, a mulher, o que se destaca pela diferença… As fotografias com Judith sempre são realizadas em contextos ligados a migração e, portanto, comumente pode surgir ao lado da personagem um imigrante em seu cotidiano ordinário. Khôra desencadeou outro projeto bastante importante neste processo criativo. Trata-se da série de videoartes Firefly. Esta série tem inspiração em estudos a partir da obra literária de Pier Pasolini. A visão de Pasolini sobre um novo totalitarismo sob o qual o hipermaterialismo estava destruindo a cultura da Itália, agora pode ser encarada como uma brilhante antevisão do que aconteceria no mundo atual em geral com o advento da internet. O consumismo se converte em uma nova era e uma forma completamente nova de fascismo. Esta cultura de consumo da qual Pasolini se refere, é hoje responsável pela degradação do meio ambiente de tal modo radical que tem ameaçado o equilíbrio saudável de nossa existência. O desaparecimento dos vaga-lumes é explicado no artigo de Pasolini fazendo exatamente esta relação entre industrialização e consumismo, versos destruição de uma paisagem e não apenas, também de uma forma de viver e pensar. Era o fim de uma era, de uma cultura. (…)“Nos primeiros anos da década de 60, por causa da poluição do ar, e, sobretudo, no campo, por causa da poluição da água (os rios azuis e os pequenos canais transparentes), começaram a desaparecer os vaga-lumes. O fenômeno foi fulminante e fulgurante. Depois de poucos anos os vaga-lumes desapareceram completamente. (Eles são, agora, uma lembrança muito dolorosa do passado: e um homem de idade, que tenha tal lembrança, não pode reconhecer nos novos jovens a sua própria juventude, e não pode mais ter as recordações maravilhosas daquele momento).”

Portanto, a série de videoartes surgiu a partir do artigo “O vazio de poder na Itália” conhecido como o artigo dos vaga-lumes, publicado no “Corriere della Sera” no dia 1 de fevereiro de 1975. Este caminho faz sentido porque o vídeo trata alegoricamente de resistência, sobrevivência e silêncio interpretados por mim. Crio situações de silenciosa angústia e impotência diante de realidades políticas e culturais que ultrapassam a minha capacidade de ação. Os dois vídeos que compõem até o momento a série, não possuem diálogo e a personagem tenta comunicar, mas algo sempre a impede. A sensação de impotência é evidente nos dois vídeos.

Por retomar sempre a analogia entre o desaparecimento dos vaga-lumes com uma série de questões levantadas por Pasolini e que foram expostas acima, conectei um fato relativamente recente com a minha pesquisa. A extinção de uma subespécie de rinocerontes. Em 19 de março de 2018, morre o ultimo macho da subespécie de rinocerontes do norte, de nome Sudão. Era da subespécie dos brancos do norte, há também do Sul, para além de outras subespécies como os negros, que são menores, Rinocerontes de Java e Sumatra. O mais conhecido é o indiano, por ter a aparência de vestir uma armadura medieval. Todos as espécies estão na linha de extinção, isto porque sofrem com a caça predatória dos humanos, que os matam em busca de seu chifre. O motivo que levou tais animais a serem ameaçados de extinção ou mesmo extintos é somente o consumo. A forma de processar e compreender este século vai por vias de se entender como funciona uma cultura que não tem limites éticos ou empatia quando a motivação é o desejo e o desejo é motivado pelo ter ou pela criação de uma falsa necessidade de ter. Desta forma, transformo o vaga-lume de Pasolini em um Sudão, um imenso rinoceronte indefeso diante de uma sociedade liderada por um sentido de vazio de poder que justo acontece, no advento da “morte” dos vaga-lumes. Os parâmetros de afeto e empatia desapareceram, mortes são números e se importantes é porque são seletivas em sua importância. Nesta seleção de importantes, os animais, as plantas, o ar, os rios e o mar nada mais são que moedas de troca e, portanto, de consumo. Consumimos absolutamente tudo e nada tem efetivamente valor. A série Onde está Sudão? pergunta sobre o que se perdeu antes da morte dos vaga-lumes, antes do vazio de poder haver se instalado completamente em nossos lares. O Sudão, assim era chamado, era um imenso animal que pesava mais de duas toneladas, mas não era suficientemente forte para deter o irrefreável desejo enleado de vazio que grande parte da humanidade tem hoje dentro de si.

Vídeos