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Maíra Ortins

Maíra Ortins, cidade do Recife, 07 de outubro de 1980. Possui Graduação em Letras pela UFC (2006). De 2005/ 2008 foi diretora da Galeria Antonio Bandeira. Entre 2008 /2012 foi Coordenadora de Artes Visuais da Secultfor . Participou de vários salões e exposições coletivas e individuais pelo Brasil e exterior.

Site: https://mairaortins.wordpress.com

Email: mairaortins@gmail.com

Telefone Público: (85) 99622-0036

Descrição

O conjunto de minha obra é um vasto no que se refere as técnicas de execução. O que liga uma produção a outra é o tema da migração e suas consequentes sociais. Tenho uma pesquisa com imigrantes realizada com fotoperformance, tendo esta se desdobrado em outras que recriam novos personagens. Por esta razão, pode-se afirmar que meu trabalho é resultado de um processo que desencadeia distintos caminhos que levam a um mesmo ponto. Nas séries de fotoperformance, por exemplo, atuei interpretando personagens por mim criados. A exemplo, a personagem que chamo de “Abissal” é uma metáfora de toda a criatura vinda do mar, do mais profundo e obscuro oceano. Vem das entranhas da terra. Aquela criatura feia e da escuridão, emerge em minha obra como um ser mítico, surge quase como uma lenda. Foi daí que desenvolvi o projeto Deriva, que se destinou a levar a criatura abissal pelo mundo. Antes da criatura abissal, eu já havia iniciado uma longa série intitulada “das intimidades do mar” que utiliza fotografias antigas, reproduções de daguerreotipos, manipulados com cera e desenho para narrar a história de uma ilha morta, ou uma Atlântida perdida. Eu chamo esta Atlântida de Pasárgada e uso como referência Manuel Bandeira. Destas duas séries, surge uma outra intitulada Khôra. De forma mais midiática e política, nasce a personagem Judith que aparece entre imigrantes espalhados pelo mundo, sempre mascarada, sempre indiferente ao mundo que a cerca. Judith não tem rosto, não julga. Ela aparece. Surge no entre e desaparece. Incomoda. Ela é o outro quase invisível, mas que tanto perturba: o imigrante, a mulher, o que se destaca pela diferença… As fotografias com Judith sempre são realizadas em contextos ligados a migração e, portanto, comumente pode surgir ao lado da personagem um imigrante em seu cotidiano ordinário. Khora desencadeou outro projeto bastante importante neste processo criativo. Trata-se da série de videoartes Firefly. Esta série tem inspiração em estudos a partir da obra poética de Pier Pasolini. O fio da meada veio com o texto “o silêncio da noite” famoso pela analogia que faz aos vaga-lumes com a resistência ao fascismo. Este caminho faz sentido porque o ódio aos imigrantes tem uma forte conexão com o fascismo e por conta deste dado, alonguei a pesquisa, esmiuçando a questão. Retomo a personagem Judith , com e sem máscara nos vídeos Judith não fala. Ainda pretendo realizar vídeos mesclando Judith com a série sobre Sudão.

Em 2018, a partir do apanhado de todas séries acima citadas e observando os últimos acontecimentos ligados ao tema em questão, criei uma série que tenho me dedicado atualmente. Cham-se Onde está Sudão? Sudão é o nome de um rinoceronte macho do norte, que morreu aos 45 anos em maio de 2018. Com a sua morte foi considerada extinta sua raça. A história de Sudão também foi marcada por idas e vindas e por um longo exílio na República Tcheca. A razão era a cobiça por seu chifre totalmente constituído de cartilagem, que orientais julgam ser a razão de milagres no tocante a fertilidade. Mito ou não o fato é que, devido a caça ilegal durante anos, esta espécie desapareceu, restando apenas duas fêmeas, sendo uma delas filha de Sudão e a outra, neta. Esta conexão que faço com o tema e as formas de tratá-lo dá a minha obra uma visão ampla da questão, compreende-se a dimensão da dor, da solidão, da indiferença, da maldade e do sonho, do onírico. Porque também encontro o lugar para o escapismo, para a saída, também crio um lugar imaginado para aqueles que não tem lugar.

Desta forma, pode-se observar que oscilo entre muitas linguagens, desde desenho, fotografia, performance, objeto, escultura, instalação, intervenção, vídeo, mas sempre conectado ao eixo da pesquisa: a migração e suas consequentes sociais e políticas. Na série dos murais e das intervenções urbanas, utilizo personagens míticos e poéticos, provindos de uma Atlântida perdida, sem território fixo que vagam à deriva pelo mundo. Todos possuem uma forte relação com o mar (veículo de fuga, quimera, mas também desespero).

Portanto, através do meu trabalho tento dar visibilidade ao tema em questão, utilizo de imagens para atrair reflexões de modo a provocar debates sobre a migração, sobre as consequências de um modelo de globalização voltado para o mercado, e, por consequência, negligente sobre os impactos socioculturais que todo este movimento de pessoas e consumo acarretam. Portanto, busco instigar sobre os segredos destes personagens e o que os cerca, reavivar a memória coletiva que neles contêm, para construir um relato de uma sociedade e de uma época.

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